Em 2010, eu estava em Londres como aluna visitante de uma grande universidade, pesquisando a influência do que chamávamos de “movimento verde” na seleção de fornecedores de alimentos por grandes varejistas europeus, para minha dissertação de mestrado. Naquele momento, entendemos que os varejistas de alimentos estavam em posição privilegiada para criar um sistema de alimentos mais “verdes”, saudáveis e justos, por meio de sua influência no comportamento e tomada de decisão do consumidor na cadeia de suprimentos.
Tive a oportunidade de entrevistar representantes do Defra (Departamento de ambiente, alimentos e assuntos rurais do UK), Leaf (Linking Environment and Farming, uma organização que promove a agropecuária ambientalmente responsável) e pesquisadores especialistas no assunto do Reino Unido. Tendo como orientador de mestrado um dos maiores entusiastas do agronegócio do Brasil, terminava minha dissertação com recomendações para os produtores brasileiros tornarem seus negócios mais sustentáveis, por meio de um design verde para o ciclo de produção, e consequentemente mais competitivos para alcançar esses mercados.
Nova geração, novos fatores de decisão
De lá pra cá, 11 anos se passaram, vivemos a democratização do acesso às novas tecnologias, e consequentemente à informação, o que colocou cada vez mais em pauta não só questões ambientais, como também sociais, políticas e culturais como critérios de decisão de compra. Nesse contexto, conhecemos uma nova geração de consumidores, com força e poder de voz suficientes para influenciar hábitos e decisões, nos mais diversos aspectos.
Apesar de não haver consenso quanto à exatidão dos anos de início e fim do nascimento, sabemos que os critérios de tomadas de decisão variam bastante entre os Baby Boomers (nascidos no pós II guerra), a geração X (início dos anos 60 a final dos anos 70), os Millennials (ou geração Y, nascidos no início dos anos 80 até meados dos anos 90) e entre a geração Z (ou Zoomers, nascidos em meados dos anos 90 até início dos anos 2000), já que cada época traz um contexto específico, com impacto nos valores culturais e relações interpessoais.
Se atender às exigências de consumo dos Millennials já envolvia atender a uma geração mais criativa, preocupada com as causas sociais e mais disposta a quebrar padrões impostos pela sociedade, atender à geração Z, a mais nova no mercado de trabalho, é dialogar com uma geração que não viveu nem um ano de sua vida sem internet e que está disposta a repaginar valores e ideais de seus antecessores.
Uma nova perspectiva
Olhando o mundo por meio das lentes dos dispositivos móveis, a geração Zoomers usa aplicativos como TikTok para a socialização, aprende com gamificação, e também define seus critérios de compras de alimentos ali, no ambiente digital. Nesse contexto, a geração que cresceu junto com as novas tendências, como a rastreabilidade dos alimentos e os movimentos From-farm-to-table, é a mesma geração que conhece sobre o processo de produção agroalimentar por meio de jogos e simuladores, como o Farming Simulator.
Mas afinal, o que as novas gerações buscam nos momentos de decisão de compra de alimentos? Acostumados a ter mais opções, os pontos comumente levados em consideração para tomada de decisão são:
• Aspectos éticos dos produtos consumidos, como bem estar animal ou impacto social;
• Vegetarianismo e veganismo, muitas vezes associados à busca por fontes alternativas de proteínas;
• Busca por produtos produzidos localmente;
• Buscas por produtos funcionais, como os de fermentação natural (ex. Kombucha);
• Aspectos de conectividade e interatividade, como QR Code com mais informações dos produtos, ou ainda produtos “instagramáveis”;
• Rastreabilidade e origem dos alimentos;
• Uso de orgânicos e produtos com apelos de saúde ou natural;
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